O
gavião encontrou-se um dia com o urubu. Este, muito magro e triste,
contemplando aquele, gordo e satisfeito.
-Que
diabo tem você, amigo urubu, que está tão magro?
-É
verdade amigo gavião, e você tão gordo.
-E
porque não engorda também, amigo urubu?
-Não
posso, amigo gavião.Por estas paragens não morre ninguém...
-Pois
faça como eu, que pego os vivos!
Aí,
convidou o urubu para fazerem uma caçada.Saíram por ali afora.
O
gavião ia pegando passarinhos e dando-o ao urubu para comer.Depois
encontraram um bando de pombas.
Disse
o gavião:
-Vamos
a elas, amigo urubu!
Foram abaixo, foram arriba, dá daqui, dá d'acolá, até que as pombas
entraram pelo mato a dentro.O urubu pôs-se lá em cima, trepado num
olho de um pé de pau seco, bem de seu. Porém o gavião continuou
a perseguir as bichinhas. Tanto fez, que se estrepou numa ponta
de pau e morreu. O urubu, aí, saltou-lhe sobre o cadáver e começou
a pesticá-lo, dizendo:
-Eu vivo da desgraça dos outro!
(Miguel
Torga)
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